Quantos minutos se passaram? ... Droga, só tenho até as
dezoito. Por que dezoito se todos chamam de seis da tarde? Por que meu cérebro
imagina seis e visualiza dezoito? Droga: perdi mais alguns segundos com
raciocínios que não me levarão a nada. Ou, quem sabe, levem-me à insanidade ou à moral da história
do Laranja Mecânica. Tantos fios de cabelo já perdi por culpa desta empresa e
dos malditos cálculos. “Fulano não recebeu tudo que deveria”. “Siclano
verificou um erro no pagamento”. AAAAAH, pro inferno todos! Maldito seja também
o capitalismo, apesar de eu gostar bastante desta gravata. Fica bem.
Ó não, lá vem a secretária do chefe outra vez me dizer que
mais um cálculo não está parametrizado. Já sei, já sei, “usou a porcentagem
antiga no cálculo senhor, deveria ter usado o valor já com a inserção do
reajuste de Novembro” é o que ela vai dizer. Sei disso, sabia que ia dar merda,
mas como é que ia raciocinar tendo mil e muitas coisas pendentes a resolver
todo santo dia e dia santo também? Será que se a merda do estagiário soubesse
fazer algo além de tirar cópias naquela máquina que vive estragada não poderia
dar uma ajudinha somando os valores e batendo com os do último mês? Não, deve
ser muito mesmo para um jovem cabeludo cuja única preocupação é fumar maconha e
ver vídeos na Internet.
Desordem, desordem. Pane no sistema. Meu cérebro bóia dentro
da cabeça em algum líquido que deve ser água fervente. Não consigo pensar em
mais nada no momento que não seja em ficar até mais tarde aqui no escritório
para não ter que agüentar os mesmos resmungos daquela mulher que me casei e já
não sinto nada além de indiferença há uns bons quatorze anos. Quatorze,
quatorze... não! Nossa filha ainda tem oito. Ou seriam nove? Porra, como é que
não lembro. É sua filha, seu bosta. Qual foi a última vez que fez ela sorrir,
seu inútil?
Chega! Um cigarro, por favor. Permita-se. Mês que vem eu
tento parar de novo.
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